Somos formados de tal forma que sempre achamos que estamos concorrendo contra alguém.
Na época da escola é aquela tensão de ver os anos passarem sem saber ao certo se sabemos o que queremos ser, as referências, notas, melhores alunos, a aceitação de que não se gosta de algo que supostamente deveríamos gostar.
Quando chega a hora do vestibular, mais competição, candidatos por vaga, qual curso em qual faculdade, se vai fazer cursinho, se vai mudar de cidade, quanto custa o curso, tudo dentro de uma lógica competitiva e sempre uma ideia por trás de fazer mais que o outro. No cursinho que eu fiz era a pressão do "enquanto você assiste TV o outro candidato tá olhando a tabela periódica"
Acontece que no momento que você entra na faculdade, essa lógica continua existindo mas não mais é tão óbvia assim. Entram os paradigmas da vida, o "quem eu quero ser", o que eu quero testar, os planos e tudo que se vive dos 20 aos 30.
Eu tive a sorte de entrar no vestibular e ler nessa época os dois livros do Ricardo Semler ("Virando a própria mesa" e "Você está louco"), dois hits raros de se ler em terras brasileiras.
Ter lido as ideias do Ricardo Semler mudou muito a minha cabeça em relação à competição e a como eu queria viver meus anos na faculdade.
A ideia basicamente era que, uma vez que você estivesse no "trilho", numa formação e vida que você está satisfeito (amigos, perspectivas profissionais, entre outros), entrar na "corrida dos ratos" para ser alguém que fosse atrás das mais altas notas no ambiente estudantil, disputa por prêmios e rankings da faculdade não faziam sentido para mim.
Isso porque dentro da minha cabeça todos esses jogos que são soma zero (vestibular, rankings da faculdade, notas, esportes e outras disputas) estão sempre lá para serem jogados.
Uma vez que você fez, por exemplo, o curso de engenharia elétrica, levou a sério mas deixou espaço na sua vida para viver outras coisas, sempre será tempo de retomar e virar um engenheiro elétrico se essa for a sua ideia.
Mas existe um outro lado que corre por fora que nunca damos muito valor e nunca nos dedicamos muito a entender. E lendo as ideias do Ricardo Semler criei uma mentalidade muito diferente em relação a competir.
Acho que isso se reflete em muita coisa de Vito, a nossa originalidade, a nossa inventividade e os nossos erros. Erramos mais nesse terreno mais off-road.
A visão que sempre me norteou é que as verdadeiras recompensas da vida vêm de ignorarmos um pouco os outros e algumas pressões sociais para escolhermos melhorarmos nós mesmos.
Conhecimento, amor, estar bem fisicamente, ter saúde mental, amizades cheias de significado, ter uma família cheia de amor, tudo isso vem de ignorarmos um pouco os outros e entendermos que vem de nos melhorarmos e gastarmos tempo construindo.
De sermos melhores para nós mesmos. Aquela sensação de fazer o exercício físico sem estar preocupado necessariamente em emagrecer, viver aquele momento tão especial que nem a rede social merece receber.
No fim das contas, parece que descobrir e executar a nossa própria autenticidade é a melhor forma de escapar da competição. E você, o que acha disso?